É curioso perceber como mitos e crendices do passado ainda estão presentes na vida cotidiana com tanta força. É o poder do ser humano de contar histórias. Fato que ajudou inclusive na nossa evolução. Porém, muitos desses mitos já foram desvendados e ainda assim muita gente perpetua a informação errada. 

Um desses mitos está ligado à anestesia raquidiana, ou “raqui”. Há quem acredite que depois de passar por essa anestesia, a pessoa fica com dor nas costas por muito tempo. Isso é Fake! Após receber este tipo de anestesia, o paciente pode queixar-se de dor no local da punção por alguns dias, devido ao trauma da agulha (da mesma forma que uma picada de injeção).

É importante entendermos que qualquer tipo de procedimento invasivo (como é o caso da cirurgia) pode gerar situações de desconforto e eventualmente dor. Essa é uma resposta natural do organismo. O desconforto resultante da aplicação da raqui tende a diminuir e desaparecer. Uma vez aplicada a anestesia, a ação dos anestésicos têm duração de cerca 3 horas no organismo, a depender da dose e medicamentos utilizados. 

Se as dores do paciente persistem, e têm duração acima de uma semana, elas não são ligadas à raqui e, em sua maioria, relacionam-se ao tempo e à posição em que o paciente permaneceu durante a cirurgia e a contraturas musculares relacionadas a dor e/ou estresse emocional do perioperatório.

Há também casos em que a pessoa já tem uma propensão prévia a dores lombares que independem da anestesia (excesso de peso, fraqueza de musculatura estabilizadora de quadril e coluna, desvios de coluna, hérnias de disco, má postura…). Nesses casos, o desconforto persistente também pode estar ligado a esse tempo na mesa cirúrgica, em que o paciente fica imóvel numa mesma postura por longas horas. 

Outro fator que pode estar relacionado a essas dores é a postura do paciente em si. Quando você passa por uma cirurgia, em virtude do corte, da sensibilidade de determinadas partes do corpo, você muda a sua forma de andar. Muda a postura e também a quantidade de peso que emprega em cada lado do corpo. Mulheres parturientes, indivíduos que tenham passado por cirurgia bariátrica, abdominoplastia, etc, mudam também seu centro de gravidade.Tudo isso gera uma redistribuição do peso no corpo e são causas frequentes de lombalgias de médio e longo prazo. Dores de cabeça relativas a anestesia são muito raras, fator presente em menos de 0.5% dos casos e não estão relacionados ao fato de levantar ou não a cabeça. Segundo o Dr. Anderson Marui, da DG Medicina Perioperatória, o paciente uma vez acordado e respondendo bem aos estímulos do ambiente, já começa seu processo de recuperação. “Dependendo da cirurgia, o paciente deve alimentar-se, levantar da cama e realizar sessões de fisioterapia antes mesmo de decorridas 12h da realização da cirurgia” – observa Marui. Ele ressalta ainda que cada caso é único e, evidentemente, devem ser seguidas as orientações da equipe médica, de enfermagem e fisioterapia.

Um cuidado importante antes da cirurgia está ligado a questão da alimentação e do peso do paciente. Como prevenção, desde o pré operatório (quando permitido por cirurgião e anestesista), o controle de peso e um programa adequado de exercícios sob orientação profissional para fortalecimento do “core”  (músculos profundos da região abdominal e lombar) como por exemplo ginástica funcional e pilates podem minimizar a probabilidade ou a severidade do quadro.

Então perceba que o medo em torno da anestesia raquidiana é infundado, pois eventuais dores advindas da anestesia estão ligadas apenas ao trauma da agulha anestésica, que tem um efeito pontual e local. Como a ação do líquido anestésico é de curta duração, os desconfortos pós cirúrgicos não tem ligação com ele. 

Agora você já sabe!

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