Você tende a sentir mais frio ou mais calor normalmente? Independentemente da sua resposta, a temperatura interna do corpo de todos nós é sempre a mesma, ainda que a sua sensação térmica possa variar de acordo com as mudanças climáticas externas. O corpo humano geralmente tem uma temperatura que varia entre 36,5ºC a 37ºC. Essa temperatura é regulada de duas formas: produção ou perda de calor. Esse calor do corpo é gerado primeiro nos órgãos internos e depois passa pelos músculos e ossos até chegar a nossa pele.

O metabolismo de cada pessoa influencia diretamente na rapidez ou lentidão com que ela perde e ganha calor. Para que o corpo perca calor, os vasos sanguíneos se dilatam, a produção do calor nos órgãos internos é reduzida e a pessoa sua com mais intensidade. Quando o corpo precisa esquentar, o organismo contrai os vasos sanguíneos da pele e passa a produzir mais calor internamente, entre outras dinâmicas como a produção de uma substância que aumenta o metabolismo celular (tiroxina). Toda essa movimentação interna para garantir que o corpo fique estável na sua temperatura média, afeta o funcionamento do organismo como um todo.

A temperatura corporal e a realização de cirurgias

Com isso, você já deve estar imaginando o quão importante é manter a sua temperatura corporal quando você vai se submeter a uma cirurgia. Em geral, é muito frequente que haja uma baixa da temperatura corporal no período perioperatório, ou seja, quando você vai receber a anestesia. Apesar de frequente, este episódio não é bom e deve ser sempre controlado e monitorado pela sua equipe médica. A baixa temperatura corporal pode acarretar prejuízo na produção das plaquetas no sangue, aumento dos batimentos cardíacos e respiração mais ofegante e uma maior possibilidade de contrair infecções, entre outros problemas.

As boas práticas da medicina perioperatória (anestésica) trabalham no sentido não somente de reduzir a probabilidade de complicações durante a cirurgia e garantir uma experiência mais agradável para o paciente antes e depois da intervenção. Por isso, é muito importante certificar-se de estar sendo acompanhado por uma equipe experiente e preparada.

Estudos recentes mostraram que alguns fatores podem aumentar a propensão do indivíduo a sofrer de hipotermia perioperatória. Pessoas com idade superior a 70 anos e recém-nascidos têm maior propensão à hipotermia que pacientes jovens, justamente por estarem com seu sistema termorregulador comprometido ou não desenvolvido, respectivamente. Os episódios de hipotermia neste grupo de pacientes também tendem a ser mais prolongados que na população em geral. Além da idade, o sexo também tem se mostrado determinante nos quadros de hipotermia. Mulheres tem maior propensão à diminuição da temperatura corporal que os homens. Elas geralmente perdem menos calor que o homem devido ao seu percentual de tecido adiposo funcionar como camada protetora. Entretanto, a menor quantidade de massa muscular na população feminina a torna mais susceptível a perda de calor para o ambiente.

Fator de atenção

As cirurgias abdominais, geralmente muito requisitadas pelo público feminino, são as que apresentam maior probabilidade à hipotermia nos pacientes. O alerta é do estudo realizado pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que investigou 101 pacientes submetidos a cirurgias de médio porte. Justamente por oferecer uma maior exposição dos órgãos internos, cirurgias abdominais e laparoscópicas – onde há também a insuflação do gás carbônico frio dentro do organismo apresentam grande potencial para diminuição da temperatura corporal.

Níveis e sintomas

A hipotermia é considerada suave de 36ºC a 34ºC, quando o paciente pode apresentar estado mental de confusão, amnésia e calafrios. É um quadro mais difícil de ser percebido pela equipe médica, e que requer maior atenção. Por isso, é sempre recomendado o monitoramento da temperatura corporal no período perioperatório. Quando a temperatura cai ainda mais, entre 33ºC e 30ºC, o quadro já passa para hipotermia moderada. Os sintomas desta fase incluem a dilatação das pupilas, fibrilação arterial, contrações pós ventriculares e a presença de ondas J no eletrocardiograma. É um quadro de alerta. Se a temperatura corporal ficar abaixo destes índices pode desestabilizar ainda mais o organismo e levar a morte.

É fato que o paciente, em pleno processo operatório não pode mais do que confiar na sua equipe médica. Porém o bom preparo pré-operatório, seguindo corretamente as instruções do seu médico antes da realização da cirurgia podem evitar um grande desgaste cirúrgico e melhor a recuperação posteriormente.

Fonte: POVEDA, V. B., GALVÃO, C.M. e DANTAS, R. A. S. Hipotermia no período intraoperatório em pacientes submetidos a cirurgias eletiva