Medicina humanizada é um conceito que vem sendo usado de forma cada vez mais ampla. Trata-se de uma abordagem que vê a pessoa como um todo, analisando seus sentimentos, medos, desejos. É um conceito que tira o foco da doença e acolhe o indivíduo, fazendo com que ele seja o centro do atendimento técnico, levando-se em consideração a condição humana com todas as suas particularidades.
Essa prática médica tem ganhado espaço crescente, de maneira que hoje somos capazes de mensurar a importância que sentir-se acolhido, amado, cuidado, traz para a recuperação do paciente. Um exemplo notório desses resultados podem ser observados nas práticas da ONG “Doutores da Alegria”. Por intermédio de suas brincadeiras, os palhaços voluntários levam o riso para dentro dos hospitais, fazendo com que o ambiente se torne mais “leve” – o que acaba trazendo benefícios não somente para os pacientes, mas também para seus acompanhantes, corpo clínico, funcionários. As “gracinhas” que arrancam sorrisos ajudam e melhorar os índices de bem-estar, aceleram processos de alta e aumentam a resposta positiva a diversos tratamentos. A medicina humanizada, de fato, vai além de fazer sorrir em meio a dor. Ela considera a influência da psique não somente como causadora de alguns sintomas, mas como uma espécie de portal que permite ao paciente aceitar o tratamento e fazer parte ativamente da sua cura. Este olhar, deve ser estendido não somente para o paciente, mas a todos os profissionais envoltos no processo de cura.
Quem cuida de quem cuida?
Por muito tempo, nossa sociedade desconsiderou o bem-estar e o psicológico dos profissionais da área da saúde, sem entender isso influencia diretamente nas suas interações com os pacientes e fazem grande diferença nos resultados obtidos. Por isso a humanização deve extrapolar a relação médico-paciente e ser estendida a todos os parceiros que trabalham nos hospitais ou clínicas. Os cuidados devem começar na própria recepção, nas pessoas que recebem o doente (atendentes, seguranças, manobristas, faxineiros, etc.), passando por todos envolvidos no apoio hospitalar: enfermeiros, técnicos, médicos. É preciso ter a compreensão de que a medicina humanizada é um processo global, que começa no primeiro atendimento e vai até a recuperação e pós atendimento. O processo de acolhimento humanizado começa, sem dúvida, no desenvolvimento e na prática da empatia, mas deve ir além.
Do plano à prática
Equipes hospitalares devem estar em constante treinamento das chamadas Soft Skills, ou habilidades sensíveis, para que possam revisar constantemente suas práticas e necessidades. Isso porque as demandas do dia a dia tendem a nos dessensibilizar e forçar os profissionais para uma certa automatização de condutas. Na assistência humanizada, pelo contrário, o fator humano deve estar em primeiro plano. Trata-se de desenvolver um olhar sensível, capaz de enxergar a dor da alma, aquela que se esconde por detrás de nossas máscaras sociais. Essa abordagem é tão relevante que, nos anos 2000 a 2002, o Ministério da Saúde realizou em âmbito nacional um Programa de Humanização da Assistência Hospitalar, o PNHAH – que em 2003 se tornou a Política Nacional de Humanização (PNH), política que deve estar presente em todas as ações do Sistema Único de Saúde. À época do desenvolvimento inicial do projeto, os principais objetivos eram:
- deflagrar um processo de humanização dos serviços, de forma vigorosa e profunda, processo esse destinado a provocar mudanças progressivas, sólidas e permanentes na cultura de atendimento à saúde, em benefício tanto dos usuários-clientes quanto dos profissionais;
- produzir um conhecimento específico acerca destas instituições, sob a ótica da humanização do atendimento, de forma a colher subsídios que favoreçam a disseminação da experiência para os demais hospitais que integram o serviço de saúde pública no Brasil.
A prática humaniza, independente de programas e gestões governamentais, é algo que veio para ficar. Num mundo cada vez mais tecnológico e robotizado, o capital humano e suas subjetividades precisam estar em primeiro plano, para que possamos viver numa sociedade melhor, mais inclusiva e com a efetiva prática de valorização da vida.
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